sábado, 11 de novembro de 2017

Condução e Recepção

"Feche os olhos... Não pode abri-los!" - Adverte a voz da condução.

Sinto que ando pela sala, o piso frio, a noção espacial me diz que me deixaram parada em algum ponto no extremo da sala.
Ouço as vozes e tento reconhecê-las, imagino a distância entre mim e os outros.
Silêncio... "O que estará por vir?"
Aperto os olhos tentando não ceder à vontade de abri-los...
Começa a música e o corpo já pede movimentos, permaneço inerte.
Uma mão toca minhas costas e eu tento descobrir quem é... O toque doce, e então começa a condução, macia, doce, leve, reconheço e respondo a troca...
Nossa troca sempre tão assim... velada e íntima, doce mas com uma pitada de tensão... livre e contida... Especial nossa troca... a química sempre fluindo por nossos corpos em ânsias, e em entrega, você se vai e meu corpo volta a ficar inerte, pedindo condução... ávida de movimento.

Outra mão me toca o corpo, me conduz, na liberdade dos movimentos eu o reconheço, essa sensação vem para mim e eu sinto como se qualquer movimento fosse permitido, o corpo não se inibe aos toques e tudo flui como se fizéssemos parte da melodia ao fundo, então este outro corpo se vai... Deixando em mim a fome de muitas trocas e conduções.

Outro toque, pedindo que me desloque e precinto que a dinâmica mudou, então meu corpo se encontra a outro corpo curioso, sei que é mais um dos que estão de olhos fechados,  um toque curioso, impreciso, conduzido pelas mãos dos "olhos abertos".

Eu sei quem é  você, eu sinto quem você é, como sempre foi, os corpos que não mais se tocam guardam dentro de si a memória da pele já antes tocada.
Você sabe quem eu sou, os músculos se contraem microscopicamente tentando simular liberdade, mas eu te sinto como sempre nos sentimos...
Os movimentos são conduzidos mas nossas peles não há quem conduza, a pele sente e responde ao toque, há o que nunca se vê,  há o que sempre houve... E a condução pára novamente, deixando nossos corpos juntos, parados por fora e como tornados por dentro... Inertes como um vulcão que ativo não explode...

A música pára... Segundos e mais segundos... Sabemos que todos nos olham... mas nenhum músculo ousa se movimentar...

Os olhos se abrem... 
acabou a dinâmica...